O ABADE COZINHEIRO

O ABADE COZINHEIRO

Manuel Joaquim Rebelo (1834-1930) poderia ter ficado para a história apenas como mais um dos vigários da freguesia de Priscos. Porém, a sua particular devoção à gastronomia acabou por reservar-lhe um especial lugar no contexto da culinária nacional. Na mesa do Abade de Priscos, tal como era designado, sentaram-se reis, ministros e bispos. O pudim por si confecionado é, até hoje, o maior embaixador de Priscos.

Manuel Joaquim Rebelo (1834-1930) poderia ter ficado para a história apenas como mais um dos vigários da freguesia de Priscos. Porém, a sua particular devoção à gastronomia acabou por reservar-lhe um especial lugar no contexto da culinária nacional. Na mesa do Abade de Priscos, tal como era designado, sentaram-se reis, ministros e bispos. O pudim por si confecionado é, até hoje, o maior embaixador de Priscos.

          Nascido a 29 de março de 1834 na freguesia de Turiz, que hoje integra o concelho de Vila Verde, mas ao tempo fazia parte do extinto concelho de Larim, é proveniente de uma abastada família de agricultores, do qual foi o quatro filho.

          Manuel Joaquim Machado Rebelo cedo manifestou a sua vocação ao sacerdócio, que sairia reforçada com a decisão do seu irmão Luís Manuel, quatro anos mais velho, em seguir para o seminário, no qual ingressaria em 1854.

          Nascido a 29 de março de 1834 na freguesia de Turiz, que hoje integra o concelho de Vila Verde, mas ao tempo fazia parte do extinto concelho de Larim, é proveniente de uma abastada família de agricultores, do qual foi o quatro filho.

          Manuel Joaquim Machado Rebelo cedo manifestou a sua vocação ao sacerdócio, que sairia reforçada com a decisão do seu irmão Luís Manuel, quatro anos mais velho, em seguir para o seminário, no qual ingressaria em 1854.

Ordenado sacerdote em 1861 pelo Arcebispo D. José Joaquim de Azevedo e Moura, o padre Manuel Joaquim haveria de iniciar o seu ministério presbiteral em 1864, após breve passagem por Cunha, na paróquia barcelense de Bastuço, onde permaneceu durante nove anos. Seguir-se-ia a paroquialidade de Ruilhe em 1873, paróquia na qual permaneceria até outubro de 1882, momento em que seria nomeado abade colado de Santiago de Priscos, após ter sido aprovado no concurso que então se realizava antecedendo a nomeação para as paróquias de mais elevado estatuto. Ali permaneceria durante perdurados 47 anos, até ao ano de 1929, pouco antes da sua morte, que ocorreria no dia 24 de setembro de 1930. Nos últimos anos da sua vida foi acompanhado pela sua sobrinha Maria Amélia, que se dedicou ao tio e com ele viveu no Passal de Priscos desde os 14 anos.

Homem de oração e devoção, deixou-se entusiasmar pelo culto ao Sagrado Coração de Jesus, que os Jesuítas propagavam através do Apostolado da Oração. Como Abade de Ruílhe, além de instituir a devoção e o Apostolado da Oração, angariou esmolas para erigir uma capela daquela evocação. Aquele espaço de culto soçobraria algumas décadas depois para dar lugar à atual igreja paroquial. Em Priscos também se dedicou a este culto, tendo instituído uma associação do Apostolado da Oração na paróquia e introduzido um retábulo com a imagem do Sagrado Coração de Jesus no interior do templo (Lage, 1956). Exemplar no exercício do seu ministério sacerdotal e de42reconhecidas virtudes humanas, o padre Manuel Joaquim acabou por gravar o seu nome na história por outro motivo. Além do altar, a cozinha era o seu espaço privilegiado de missão e nela despendeu horas infindáveis reproduzindo e aprimorando as suas receitas. Procurando conhecimento e atualização recorrente sobre a evolução das técnicas e teorias da arte culinária em voga na Europa, através de publicações e também se correspondendo com outros ilustres gastrónomos, o Abade de Priscos tratava a culinária como uma arte, por isso mesmo é hoje considerado um dos maiores nomes da gastronomia portuguesa.

Se o seu pudim, que reúne proficientemente ovos, água, açúcar, raspa de limão, canela e o vinho do Porto, sem esquecer o toucinho, se tornou num dos inevitáveis ícones da doçaria nacional, o receituário do Abade gastrónomo integra muitas outras iguarias, que não se cingem à doçaria, mas também “consommés” de nomes requintados, folhados, pratos de caça, lampreia e bacalhau, além de diversas sobremesas. Os menus são vastos e o seu talento gastronómico incomensurável. São inúmeras as receitas que introduziu nos seus diversos repastos que organizou, muitas das quais hoje desconhecidas.

Reconhecido pelo seu talento gastronómico, o Abade de Priscos foi continuamente convidado para preparar distintos repastos em festas e banquetes nos quais participavam membros da alta aristocracia, da política e do clero.

Bispos, condes, ministros, académicos e até o próprio rei se sentaram numa mesa preparada pelo Abade.

Mas não se pense que o Abade apenas dividia o seu ministério sacerdotal com a culinária. Manifestando significativa sensibilidade para as artes, que o levaram até a ponderar ir para Paris estudar belas-artes antes da sua decisão pelo sacerdócio, o padre Manuel Joaquim consagrava-se a outros dons. Ficaram célebres as sessões de teatro popular no barracão de madeira que mandou fazer para o efeito no adro da Capela de Nossa Senhora do Carmo em Cunha.

Além de uma inclinação para os trabalhos manuais, como pintura, arranjos florais ou bordados, devotou-se à fotografia e ao teatro, tendo até iniciado os seus paroquianos nas artes cénicas.

          O mais célebre Abade de Priscos veio a falecer por volta das 20h00 do dia 24 de setembro de 1930, aos 96 anos de idade, na Casa do Reguengo, em Vila Verde, tendo sido sepultado dois dias depois num jazigo da família no cemitério de Turiz.

Ordenado sacerdote em 1861 pelo Arcebispo D. José Joaquim de Azevedo e Moura, o padre Manuel Joaquim haveria de iniciar o seu ministério presbiteral em 1864, após breve passagem por Cunha, na paróquia barcelense de Bastuço, onde permaneceu durante nove anos. Seguir-se-ia a paroquialidade de Ruilhe em 1873, paróquia na qual permaneceria até outubro de 1882, momento em que seria nomeado abade colado de Santiago de Priscos, após ter sido aprovado no concurso que então se realizava antecedendo a nomeação para as paróquias de mais elevado estatuto. Ali permaneceria durante perdurados 47 anos, até ao ano de 1929, pouco antes da sua morte, que ocorreria no dia 24 de setembro de 1930. Nos últimos anos da sua vida foi acompanhado pela sua sobrinha Maria Amélia, que se dedicou ao tio e com ele viveu no Passal de Priscos desde os 14 anos.

Homem de oração e devoção, deixou-se entusiasmar pelo culto ao Sagrado Coração de Jesus, que os Jesuítas propagavam através do Apostolado da Oração. Como Abade de Ruílhe, além de instituir a devoção e o Apostolado da Oração, angariou esmolas para erigir uma capela daquela evocação. Aquele espaço de culto soçobraria algumas décadas depois para dar lugar à atual igreja paroquial. Em Priscos também se dedicou a este culto, tendo instituído uma associação do Apostolado da Oração na paróquia e introduzido um retábulo com a imagem do Sagrado Coração de Jesus no interior do templo (Lage, 1956). Exemplar no exercício do seu ministério sacerdotal e de42reconhecidas virtudes humanas, o padre Manuel Joaquim acabou por gravar o seu nome na história por outro motivo. Além do altar, a cozinha era o seu espaço privilegiado de missão e nela despendeu horas infindáveis reproduzindo e aprimorando as suas receitas. Procurando conhecimento e atualização recorrente sobre a evolução das técnicas e teorias da arte culinária em voga na Europa, através de publicações e também se correspondendo com outros ilustres gastrónomos, o Abade de Priscos tratava a culinária como uma arte, por isso mesmo é hoje considerado um dos maiores nomes da gastronomia portuguesa.

Se o seu pudim, que reúne proficientemente ovos, água, açúcar, raspa de limão, canela e o vinho do Porto, sem esquecer o toucinho, se tornou num dos inevitáveis ícones da doçaria nacional, o receituário do Abade gastrónomo integra muitas outras iguarias, que não se cingem à doçaria, mas também “consommés” de nomes requintados, folhados, pratos de caça, lampreia e bacalhau, além de diversas sobremesas. Os menus são vastos e o seu talento gastronómico incomensurável. São inúmeras as receitas que introduziu nos seus diversos repastos que organizou, muitas das quais hoje desconhecidas.

Reconhecido pelo seu talento gastronómico, o Abade de Priscos foi continuamente convidado para preparar distintos repastos em festas e banquetes nos quais participavam membros da alta aristocracia, da política e do clero.

Bispos, condes, ministros, académicos e até o próprio rei se sentaram numa mesa preparada pelo Abade.

Mas não se pense que o Abade apenas dividia o seu ministério sacerdotal com a culinária. Manifestando significativa sensibilidade para as artes, que o levaram até a ponderar ir para Paris estudar belas-artes antes da sua decisão pelo sacerdócio, o padre Manuel Joaquim consagrava-se a outros dons. Ficaram célebres as sessões de teatro popular no barracão de madeira que mandou fazer para o efeito no adro da Capela de Nossa Senhora do Carmo em Cunha.

Além de uma inclinação para os trabalhos manuais, como pintura, arranjos florais ou bordados, devotou-se à fotografia e ao teatro, tendo até iniciado os seus paroquianos nas artes cénicas.

          O mais célebre Abade de Priscos veio a falecer por volta das 20h00 do dia 24 de setembro de 1930, aos 96 anos de idade, na Casa do Reguengo, em Vila Verde, tendo sido sepultado dois dias depois num jazigo da família no cemitério de Turiz.

Ordenado sacerdote em 1861 pelo Arcebispo D. José Joaquim de Azevedo e Moura, o padre Manuel Joaquim haveria de iniciar o seu ministério presbiteral em 1864, após breve passagem por Cunha, na paróquia barcelense de Bastuço, onde permaneceu durante nove anos. Seguir-se-ia a paroquialidade de Ruilhe em 1873, paróquia na qual permaneceria até outubro de 1882, momento em que seria nomeado abade colado de Santiago de Priscos, após ter sido aprovado no concurso que então se realizava antecedendo a nomeação para as paróquias de mais elevado estatuto. Ali permaneceria durante perdurados 47 anos, até ao ano de 1929, pouco antes da sua morte, que ocorreria no dia 24 de setembro de 1930. Nos últimos anos da sua vida foi acompanhado pela sua sobrinha Maria Amélia, que se dedicou ao tio e com ele viveu no Passal de Priscos desde os 14 anos.

Homem de oração e devoção, deixou-se entusiasmar pelo culto ao Sagrado Coração de Jesus, que os Jesuítas propagavam através do Apostolado da Oração. Como Abade de Ruílhe, além de instituir a devoção e o Apostolado da Oração, angariou esmolas para erigir uma capela daquela evocação. Aquele espaço de culto soçobraria algumas décadas depois para dar lugar à atual igreja paroquial. Em Priscos também se dedicou a este culto, tendo instituído uma associação do Apostolado da Oração na paróquia e introduzido um retábulo com a imagem do Sagrado Coração de Jesus no interior do templo (Lage, 1956). Exemplar no exercício do seu ministério sacerdotal e de42reconhecidas virtudes humanas, o padre Manuel Joaquim acabou por gravar o seu nome na história por outro motivo. Além do altar, a cozinha era o seu espaço privilegiado de missão e nela despendeu horas infindáveis reproduzindo e aprimorando as suas receitas. Procurando conhecimento e atualização recorrente sobre a evolução das técnicas e teorias da arte culinária em voga na Europa, através de publicações e também se correspondendo com outros ilustres gastrónomos, o Abade de Priscos tratava a culinária como uma arte, por isso mesmo é hoje considerado um dos maiores nomes da gastronomia portuguesa.

Se o seu pudim, que reúne proficientemente ovos, água, açúcar, raspa de limão, canela e o vinho do Porto, sem esquecer o toucinho, se tornou num dos inevitáveis ícones da doçaria nacional, o receituário do Abade gastrónomo integra muitas outras iguarias, que não se cingem à doçaria, mas também “consommés” de nomes requintados, folhados, pratos de caça, lampreia e bacalhau, além de diversas sobremesas. Os menus são vastos e o seu talento gastronómico incomensurável. São inúmeras as receitas que introduziu nos seus diversos repastos que organizou, muitas das quais hoje desconhecidas.

Reconhecido pelo seu talento gastronómico, o Abade de Priscos foi continuamente convidado para preparar distintos repastos em festas e banquetes nos quais participavam membros da alta aristocracia, da política e do clero.

Bispos, condes, ministros, académicos e até o próprio rei se sentaram numa mesa preparada pelo Abade.

Mas não se pense que o Abade apenas dividia o seu ministério sacerdotal com a culinária. Manifestando significativa sensibilidade para as artes, que o levaram até a ponderar ir para Paris estudar belas-artes antes da sua decisão pelo sacerdócio, o padre Manuel Joaquim consagrava-se a outros dons. Ficaram célebres as sessões de teatro popular no barracão de madeira que mandou fazer para o efeito no adro da Capela de Nossa Senhora do Carmo em Cunha.

Além de uma inclinação para os trabalhos manuais, como pintura, arranjos florais ou bordados, devotou-se à fotografia e ao teatro, tendo até iniciado os seus paroquianos nas artes cénicas.

          O mais célebre Abade de Priscos veio a falecer por volta das 20h00 do dia 24 de setembro de 1930, aos 96 anos de idade, na Casa do Reguengo, em Vila Verde, tendo sido sepultado dois dias depois num jazigo da família no cemitério de Turiz.

Um cozinheiro muito poupado

          Não se pense, porém, que o Abade de Priscos era um oneroso chef de cozinha. Todos os serviços que prestava eram efetuados a título gracioso, beneficiando apenas do prazer, eaté sentido de missão, que lhe era concedido ao assumir a responsabilidade pela confeção de uma refeição. E empregava o mesmo empenho e dedicação fosse o Rei ou o Arcebispo, ou uma humilde família a sentar-se à mesa. Um dos episódios relatado revela-nos a preparação de um repasto para alguns membros do clero, a pedido do Arcebispo D. Manuel Baptista da Cunha. Instado a fazer a lista de compras, o prelado bracarense achou exígua a quantidade de batatas e referiu: “Pense bem. Há dias o meu cozinheiro comprou muito maior porção de batatas para um jantar com menor número de pessoas. Veja lá, não vamos ficar mal”. O Abade riu-se e disse: “Senhor Arcebispo, com essa quantidade de batatas, eu sustentava o meu porco meio ano.” O requinte da sua culinária não estava na quantidade ou qualidade dos produtos, mas na forma e talento com que eram confecionados.

Um cozinheiro muito poupado

          Não se pense, porém, que o Abade de Priscos era um oneroso chef de cozinha. Todos os serviços que prestava eram efetuados a título gracioso, beneficiando apenas do prazer, eaté sentido de missão, que lhe era concedido ao assumir a responsabilidade pela confeção de uma refeição. E empregava o mesmo empenho e dedicação fosse o Rei ou o Arcebispo, ou uma humilde família a sentar-se à mesa. Um dos episódios relatado revela-nos a preparação de um repasto para alguns membros do clero, a pedido do Arcebispo D. Manuel Baptista da Cunha. Instado a fazer a lista de compras, o prelado bracarense achou exígua a quantidade de batatas e referiu: “Pense bem. Há dias o meu cozinheiro comprou muito maior porção de batatas para um jantar com menor número de pessoas. Veja lá, não vamos ficar mal”. O Abade riu-se e disse: “Senhor Arcebispo, com essa quantidade de batatas, eu sustentava o meu porco meio ano.” O requinte da sua culinária não estava na quantidade ou qualidade dos produtos, mas na forma e talento com que eram confecionados.

Um cozinheiro muito poupado

          Não se pense, porém, que o Abade de Priscos era um oneroso chef de cozinha. Todos os serviços que prestava eram efetuados a título gracioso, beneficiando apenas do prazer, eaté sentido de missão, que lhe era concedido ao assumir a responsabilidade pela confeção de uma refeição. E empregava o mesmo empenho e dedicação fosse o Rei ou o Arcebispo, ou uma humilde família a sentar-se à mesa. Um dos episódios relatado revela-nos a preparação de um repasto para alguns membros do clero, a pedido do Arcebispo D. Manuel Baptista da Cunha. Instado a fazer a lista de compras, o prelado bracarense achou exígua a quantidade de batatas e referiu: “Pense bem. Há dias o meu cozinheiro comprou muito maior porção de batatas para um jantar com menor número de pessoas. Veja lá, não vamos ficar mal”. O Abade riu-se e disse: “Senhor Arcebispo, com essa quantidade de batatas, eu sustentava o meu porco meio ano.” O requinte da sua culinária não estava na quantidade ou qualidade dos produtos, mas na forma e talento com que eram confecionados.

O PUDIM

O denominado Pudim Abade de Priscos é inquestionavelmente a invenção gastronómica mais célebre do padre Manuel Joaquim Machado Rebelo.

          Confecionado com regularidade nos melhores restaurantes e também nas casas dos portugueses, é presença imperativa em qualquer receituário da gastronomia nacional. Os pudins são uma iguaria inglesa cuja palavra deriva do vocábulo inglês pudding. Trata- se de um doce, reconhecido pela sua consistência gelatinosa, que na sua receita original era feito com pão, leite, ovos, uvas passas e açúcar.

          Sabemos que nos finais do século XVIII os pudins à moda de Inglaterra já eram confecionados em Portugal, aparecendo progressivamente nas mesas mais requintadas. Sendo crescentemente divulgado, o pudim apenas aparece mencionado numa publicação em português no ano de 1832, num tempo em que a sua confeção já se tornara usual nas casas da aristocracia e do clero.

          Tendo-se generalizado a sua confeção no decorrer do século XIX, foram surgindo uma diversidade assinalável de formas de o confecionar. Devidamente atualizado no concernente às artes culinárias, o Abade de Priscos cedo terá tomado conhecimento desta iguaria de origem inglesa, bem como do virtuosismo e peculiaridade das técnicas exigidas na sua confeção.

          O mais famoso Pudim da gastronomia portuguesa leva o seu nome e tornou-se no ícone da culinária bracarense. Muitos ovos, açúcar, canela, limão, vinho do porto e, até, toucinho fresco compõem esta iguaria. A solidez do pudim de Priscos é alcançada precisamente com a calda gerada pelo toucinho, um ingrediente raro na confeção de doçaria. Se o seu pudim se tornou num dos inevitáveis ícones da doçaria nacional, o receituário do Abade gastrónomo integra muitas outras iguarias, que não se cingem à doçaria, mas também “consommés” de nomes requintados, folhados, pratos de caça, lampreia e bacalhau, além de diversas sobremesas. Os menus são vastos e o seu talento gastronómico incomensurável.

São inúmeras as receitas que introduziu nos seus diversos repastos que organizou, muitas das quais hoje desconhecidas.

O PUDIM

O denominado Pudim Abade de Priscos é inquestionavelmente a invenção gastronómica mais célebre do padre Manuel Joaquim Machado Rebelo.

          Confecionado com regularidade nos melhores restaurantes e também nas casas dos portugueses, é presença imperativa em qualquer receituário da gastronomia nacional. Os pudins são uma iguaria inglesa cuja palavra deriva do vocábulo inglês pudding. Trata- se de um doce, reconhecido pela sua consistência gelatinosa, que na sua receita original era feito com pão, leite, ovos, uvas passas e açúcar.

          Sabemos que nos finais do século XVIII os pudins à moda de Inglaterra já eram confecionados em Portugal, aparecendo progressivamente nas mesas mais requintadas. Sendo crescentemente divulgado, o pudim apenas aparece mencionado numa publicação em português no ano de 1832, num tempo em que a sua confeção já se tornara usual nas casas da aristocracia e do clero.

          Tendo-se generalizado a sua confeção no decorrer do século XIX, foram surgindo uma diversidade assinalável de formas de o confecionar. Devidamente atualizado no concernente às artes culinárias, o Abade de Priscos cedo terá tomado conhecimento desta iguaria de origem inglesa, bem como do virtuosismo e peculiaridade das técnicas exigidas na sua confeção.

          O mais famoso Pudim da gastronomia portuguesa leva o seu nome e tornou-se no ícone da culinária bracarense. Muitos ovos, açúcar, canela, limão, vinho do porto e, até, toucinho fresco compõem esta iguaria. A solidez do pudim de Priscos é alcançada precisamente com a calda gerada pelo toucinho, um ingrediente raro na confeção de doçaria. Se o seu pudim se tornou num dos inevitáveis ícones da doçaria nacional, o receituário do Abade gastrónomo integra muitas outras iguarias, que não se cingem à doçaria, mas também “consommés” de nomes requintados, folhados, pratos de caça, lampreia e bacalhau, além de diversas sobremesas. Os menus são vastos e o seu talento gastronómico incomensurável.

São inúmeras as receitas que introduziu nos seus diversos repastos que organizou, muitas das quais hoje desconhecidas.

DAR PALHA AO REI

Na história da missão gastronómica do Abade de Priscos ficou especialmente famoso o jantar preparado para o Rei D. Luís I no qual teve a audácia de lhe servir palha, camuflada nos requintados pratos confecionados.

          Este episódio, celebrado até hoje, sucedeu no dia 3 de outubro de 1887, na Póvoa de Varzim, num jantar para o Rei D. Luís I e família real, que se encontrava ali em visita. Convidado para dirigir a cozinha e preparar o banquete, o Abade de Priscos esmerou-se de forma tão assinalável que o régio convidado o quis conhecer pessoalmente. Questionado pelo Rei sobre a composição de um dos seus pratos, o Abade confessou que era palha. Surpreendido com a réplica, o rei demandou a sua audácia, perguntando- lhe se tinha o atrevimento de servir palha ao seu Rei. Ao que o Abade terá respondido dizendo que “todos comem palha, a questão é sabê-la dar”. Seria precisamente o Rei D. Luís I quem lhe concederia a distinção de Capelão honorário da Casa Real.

          A palha era um ingrediente que o Abade, por vezes, utilizava, na devida forma, para engrossar os seus molhos. Após serem moídos num almofariz, os feixes de palha eram transformados numa papa cremosa que, depois de devidamente coada, era utilizada na preparação de molhos, recheios ou purés.

DAR PALHA AO REI

Na história da missão gastronómica do Abade de Priscos ficou especialmente famoso o jantar preparado para o Rei D. Luís I no qual teve a audácia de lhe servir palha, camuflada nos requintados pratos confecionados.

Este episódio, celebrado até hoje, sucedeu no dia 3 de outubro de 1887, na Póvoa de Varzim, num jantar para o Rei D. Luís I e família real, que se encontrava ali em visita. Convidado para dirigir a cozinha e preparar o banquete, o Abade de Priscos esmerou-se de forma tão assinalável que o régio convidado o quis conhecer pessoalmente. Questionado pelo Rei sobre a composição de um dos seus pratos, o Abade confessou que era palha. Surpreendido com a réplica, o rei demandou a sua audácia, perguntando- lhe se tinha o atrevimento de servir palha ao seu Rei. Ao que o Abade terá respondido dizendo que “todos comem palha, a questão é sabê-la dar”. Seria precisamente o Rei D. Luís I quem lhe concederia a distinção de Capelão honorário da Casa Real.

          A palha era um ingrediente que o Abade, por vezes, utilizava, na devida forma, para engrossar os seus molhos. Após serem moídos num almofariz, os feixes de palha eram transformados numa papa cremosa que, depois de devidamente coada, era utilizada na preparação de molhos, recheios ou purés.

O “INVENTOR” DO ABADE

Apesar do reconhecimento que obteve durante a sua vida, apenas em 1956, na sequência de um artigo publicado na revista “Panorama” pelo bracarense Francisco Lage, o Abade de Priscos reservaria o seu lugar no imaginário gastronómico português.

          Este artigo construído a partir dos elementos expostos no artigo “Subsídios para a história do último Abade colado de Priscos” publicado em novembro de 1951 no jornal “Diário do Minho” pelo padre Américo Pinto (Cunha & Câmara, 2016), acabou por garantir uma generalizada divulgação do padre Manuel Joaquim Machado Rebelo, nomeadamente no que concernia à sua especial vocação gastronómica.

          Francisco Lage foi um destacado etnógrafo do Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo, e primeiro impulsionador do Museu de Arte Popular, cuja atividade se estendeu ao folclore, teatro e gastronomia (Barthez, 2019). Um dos seus objetivos era escrever um livro sobre o Abade de Priscos, personalidade que o fascinava profundamente e sobre a qual reuniu um conjunto alargado de elementos historiográficos. Surpreendido pela morte aos 69 anos, acabou por nunca satisfazer esse desiderato.

          Francisco Lage pode , por isso mesmo, ser considerado o “inventor” do Abade de Priscos, pois foi quem iniciou a valorização da personalidade e do seu talento, evitando que o seu nome caísse no anonimato. E, efetivamente, não caiu.

O “INVENTOR” DO ABADE

Apesar do reconhecimento que obteve durante a sua vida, apenas em 1956, na sequência de um artigo publicado na revista “Panorama” pelo bracarense Francisco Lage, o Abade de Priscos reservaria o seu lugar no imaginário gastronómico português.

          Este artigo construído a partir dos elementos expostos no artigo “Subsídios para a história do último Abade colado de Priscos” publicado em novembro de 1951 no jornal “Diário do Minho” pelo padre Américo Pinto (Cunha & Câmara, 2016), acabou por garantir uma generalizada divulgação do padre Manuel Joaquim Machado Rebelo, nomeadamente no que concernia à sua especial vocação gastronómica.

          Francisco Lage foi um destacado etnógrafo do Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo, e primeiro impulsionador do Museu de Arte Popular, cuja atividade se estendeu ao folclore, teatro e gastronomia (Barthez, 2019). Um dos seus objetivos era escrever um livro sobre o Abade de Priscos, personalidade que o fascinava profundamente e sobre a qual reuniu um conjunto alargado de elementos historiográficos. Surpreendido pela morte aos 69 anos, acabou por nunca satisfazer esse desiderato.

          Francisco Lage pode , por isso mesmo, ser considerado o “inventor” do Abade de Priscos, pois foi quem iniciou a valorização da personalidade e do seu talento, evitando que o seu nome caísse no anonimato. E, efetivamente, não caiu.

PE. MANUEL REBELO

PE. MANUEL REBELO